A segunda sessão ordinária deste ano parecia calma diante de uma pauta que contemplava para votação apenas um Projeto de Lei e os tradicionais requerimentos que certamente seriam votados em bloco. Sem nenhuma pessoa inscrita para a Tribuna Livre o intervalo regimental foi anunciado pelo presidente às 20h45, após a palavra dos vereadores. Na volta, com os 11 vereadores presentes, o projeto que doava uma área de terras da prefeitura para a Emhaba (Empresa Municipal de Habitação de Araras) foi colocado em votação. O vereador Irineu Norival Maretto (PMDB) pediu vistas. Na seqüência vieram a aprovação dos requerimentos e posteriormente as explicações pessoais.
Foi a partir deste momento que a história da Câmara Municipal de Araras começou a mudar. O presidente José Roberto Rimério – Miqueira (PTB) chamou logo o vereador Antonio Carlos Assumpção – Dr. Caio (sem partido), que, em uma atitude, que o colega vereador Ricardo Franco (PV), chamou de corajosa, renunciou ao mandato.
Os motivos alegados para essa decisão, de acordo com Dr. Caio, são totalmente profissionais. Segundo ele, em 2007, deve ingressar no doutorado, além de colocar em prática outros objetivos dentro de sua área médica.
A seguir o discurso na íntegra de Antonio Carlos Assumpção – Dr. Caio:
“Senhor presidente, senhores vereadores, pessoas que nos assistem e nos ouvem. É com bastante constrangimento que estou aqui hoje pra dizer a vocês que esta é minha última sessão. A minha última sessão como vereador. Estou aqui protocolando o meu pedido de renúncia, entregando ao senhor presidente hoje, para que seja protocolado em seguida.
Seis anos. Seis anos tentando mostrar uma faceta diferente. Uma faceta que vê, que olha a cidade com outros olhos. Que não seja o trivial. Que tenha os pés agora, mas a cabeça no futuro. Que cuida dos seus hoje, mas que não esqueça dos seus filhos no futuro. Não sei se consegui fazer exatamente o propósito da minha estada aqui. Não sei se consegui satisfazer aqueles que me elegeram e a quem peço desculpas por não terminar o segundo mandato. Parcela significativa da população que confiou em mim. Tenho a impressão que consegui, pelo menos em parte, pelo menos pra mim, mostrar a que eu me dispus.
Enfim, a gente chega a um determinado momento que tem que se tomar uma decisão. A minha atividade como vereador estava um pouco aquém daquilo que eu gostaria que fosse. Gostaria que fosse mais vibrante, mais intenso. Mas por outro lado eu tenho uma atividade profissional que é extremamente exigente. Uma atividade profissional que não me perdoa se eu não acompanhar a evolução. Uma atividade profissional que se eu deixar passar eu não consigo pegar carona após.
Sendo assim, ponderei senhores, uma decisão difícil. Uma decisão difícil pra saber o que fazer. Afinal das contas, tenho dois filhos pequenos ainda. Eles dependem de mim. Preciso definir minha profissão, ou, manter minha profissão, por pelo menos mais dez anos. Gostaria de me entregar efetivamente, de corpo e alma, para a minha cidade que é a minha maior paixão.
Acho que fiz alguma coisa, pelo menos plantei alguma coisa. Espero que essas sementes germinem e no futuro pelo menos alguém possa colhê-las. Independente de gostar ou não da posição política.
Gostaria de agradecer e de uma maneira extremamente relevante os nossos colegas da Câmara. Câmara é um negócio interessante. Tinha uma noção completamente diferente, confesso a vocês. Uma noção diferente do funcionamento. Uma noção diferente do ambiente. Uma noção diferente de como as coisas caminham aqui dentro. Diferente. Nem bom, nem ruim. Nem melhor ou pior. Mas diferente. É a palavra.
Gostaria de agradecer a cada um. Todos os nossos amigos. E coloco como amigos não só os nobres vereadores, mas todos aqueles que aqui convivem. Cada um dos seus funcionários. Cada uma das pessoas que estão aqui participando do dia-a-dia da Câmara Municipal de Araras. Fazendo o funcionamento do Legislativo, que às vezes parece não tão efetivamente condizente com a cidade. Mas sim, trabalham e têm uma finalidade bastante interessante.
Gostaria também de agradecer aqueles, independente de qualquer posição, que me apoiaram em situações que por vezes, por uns, consideradas como sonhos. Mas pra mim não é sonho. Seria um projeto de futuro. Pessoas que conseguiram me dar o apoio, me trazer a convicção para que algumas batalhas a gente conseguisse pelo menos demonstrar algumas coisas importantes.
Gostaria de dizer que na verdade esses anos que vão se suceder, pra mim vão ser importantes, porque eu devo fazer mais algumas linhas de estudo dentro da minha área profissional. Terminei o mestrado no início do primeiro mandato. E agora devo ingressar no doutorado. Isso certamente vai me consumir tempo. Além disso, tenho outros projetos, de esfera profissional, que vão me requerer tempo. Vão me requerer dedicação também. E pra isso eu preciso escolher entre dois lados.
Poderia, como muitos colegas falaram, tira a licença agora, deixa pra depois. Mas eu demorei pra tomar a decisão. Pensei, pelo menos por esses dois últimos meses, Mas se eu também tirar licença agora, eu não vou ser honesto nem com a Casa, nem com aquele que me sucede. Porque eu venho, e depois vou assumir, quando? Por quanto tempo. E aquele que está me sucedendo vai estar sempre num cargo que não é dele. Ele está ocupando um espaço. Então, eu saindo, deixando o cargo livre, certamente ele vai fazer do seu mandato algo bastante significativo.
E por fim, eu queria agradecer uma pessoa que esteve comigo desde o início. Fiel escudeira. Acompanhou em todos os projetos. Todos os sonhos. Todas as buscas. E certamente em uma série de outras coisas. A Duda. Uma pessoa fantástica. Aprendi a admirá-la e a cada dia a gente vê que essa pessoa cresce ainda mais. Os seus objetivos que no começo eram mesclados de um lado de outro de idéias não muito consistentes, aos poucos de direcionam dentro de uma maturidade profissional fantástica. Uma profissional excelente. Uma pessoa de dignidade incrível. E a ela eu quero agradecer e com meus agradecimentos à Duda, estender meus agradecimentos à todos.
Obrigado.”
Após o discurso que emudeceu o plenário, o vereador presidente Miqueira leu o ofício confirmando a renúncia de Dr. Caio ao cargo de vereador.
Ameaças
Por várias vezes o cardiologista chegou a anunciar sua renúncia. Dr. Caio cumpria o segundo mandato na Câmara de Araras. Na metade do ano passado deixou o PL, partido pelo qual fora eleito. O documento que relatava a desistência do cargo estava sempre em sua gaveta nos últimos tempos. Foi rasgado, refeito. Na noite de segunda-feira ele nem chegou a sair das mãos do vereador, com receio de tê-lo jogado ao lixo pelos colegas de Câmara que tentaram fazê-lo mudar de idéia.
Sua forma de agir sempre foi de um vereador questionador que buscava entender por completo cada procedimento do Poder Legislativo. Ele discutia os assuntos e se mostrava indignado quando sentia que o resultado não seria o melhor para o desenvolvimento da cidade.
Para a vaga do médico vai ser chamado o 1º suplente da coligação PL-PMDB, o enfermeiro Erinson Mercatelli, que nesta legislatura já assumiu durante períodos de licença de Caio Assumpção.
